por Bani Passos
Eu respondo: É tanta coisa, num mesmo simbolismo...
Além de ideologismo.
Então começo pensando quem eu sou?
- Sou Mulher, negra e pobre
Fiz Jornalismo e Educação
Minha paixão Inclusão.
Toco tambor, me chamam
Macumbeira!
Intolerância, quanta bobeira
Sou de Jesus, da luz...
Mandam na minha fé
Nesse tripé eu sou o contra-pé
Inventaram pra mim, coisas assim:
- Boneca, sainha de babadim,
Florzinha e cabelo bem arrumadim.
Aventura, escalada. Perigo!? Não!
Isso é o fim.
Fui crescendo e aprendendo
Mulher tem que ser atraente!
Não, quero ser valente.
Na alfabetização A,B,C,D e E ...
Eu já falava D E S O B E C Ê
Conjugue o verbo submeter e aceitar
Mas só pra contrariar, conjugava questionar e posicionar
Em todos os tempos verbais.
Nos jornais todos os dias
Publicam mais um femicídio
Viu?
Mulher não é maldição
Feminismo não é subversão
Femicídio não é contravenção
Estupro não é: - Foi mal irmão!
Violência doméstica não é chateação, exagero ou dramalhão
Nós morremos quando o grito vem de cima
Quando o avô, pai, padrasto, vizinho ou tio
Abusam da menina.
Morremos quando a prisão do quarto se prolonga até a dor de parto
Ai! Que dor!
Aguenta firme flor!
Rasgam a nossa barriga sem licença, sem anestesia
Resultado da encrenca, nos entregam bebês com microcefalia
Zica!? Cê tá maluco? Prefiro um parto humanizado.
Piada!? Afinal tamu junto, somos um casal civilizado.
O feminismo se opõe a toda forma de dominação
Véio, é muita piração
É dupla, tripla jornada de trabalho
E ganha menos do patrão?
Quando chega em casa
Conferir a lição, não esquecer do sabão, cuidar do feijão e
Limpar o teu chão.
No fim de todas as noites
Com muita sorte, você me chama de amorzão
Cheio de intenção
Carinho, beijo e uma boa transada?
Raramente ou jamais.
Se reclamar
Você ganha chute, soco, olho roxo e facada
Frequentemente ou descanse em paz.
Agora se a nega está só
É resolvida demais
O abusador logo diz
Essa aí é treta, veio a mando do satanás
Não sou louca ou desequilibrada
Não confunda a minha TPM com o seu MEME
Patético...
Quem não abraça perde a graça
Ser feminista não é queimar o sutiã
É ter o direito de escolher em usar ou não usar todas as manhãs
Não andamos só na ponta do pé
Marchamos sim, avançamos com fé.
Lutamos por direitos iguais
Se pra você tanto fez ou tanto faz?
Rapaz, o problema é nosso
Será tão difícil assim saber?
Saiba que se você não pensar nisso, corre o risco de não me ver nunca mais.
E se ainda assim você não entendeu
Volto a repetir, precisa desenhar?
Meu!
Bani Passos é poeta, educadora, jornalista,
feminista, batuqueira, mãe, avó, namorada e amiga.
Tem 4 gatos, ama praia e mora em Peruíbe.
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