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Palavras de Caipira

Foto do escritor: Armazém na EstradaArmazém na Estrada

por Daniel Junior

à Patativa do Assaré

Fonte: https://www.portaltemponovo.com.br/

Daqui do meu pedacin de chão,

Escutano o meu radin de piia

Fumano um cigarrin de paia de miio

As nutícia qui chega

É qui a vida do homi tá por um fio.


É tanta nutícia do má

Qui inté uvido môco chega iscutá,

E o qui assombra mais qui visage de caipora

Se ispaiou nesse mundão afora

É um tár de aquicimento grobá.


Diz os intindido,

Que faz um calor dos diachos,

Seca lagoa, rio e riacho

Diz que tá secano até gelo

Pras banda do Polo Ártico.


É tanta nuvidade qui aqui chega da cidade,

Qui num pricisa nem sabê lê

Pra nóis intindê,

Num pricisa ser istudado lá da capitár

Pra saber qui as coisas cumeçou mudá,

Meu riacho tá secano

E nem peixe cunsigo pescá,

Já penso qui é coisa,

Do tár aquicimento grobá.


Uns diz qui é coisa do diabo,

Outros acridita qui é Deus castigano os seus,

E se me perguntá o qui penso?

Digo que num penso nada,

O qui acontece, é culpa do próprio homi

E sua ganança disinfreada.


E penso também qui daqui a arguns anos,

O que será do ser humano?

Acho que só terá tristeza

No intardicê num ixistirá beleza

E a caída do sol...

Só terá a cumpanhia

Do triste pio do jaó.


Daniel Junior é poeta e pedagogo

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