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  • Foto do escritorArmazém na Estrada

O Fascínio Fatal do Arlequim

um ensaio por Roberto Minadeo


Imagem: Cezanne

Grandes artistas, políticos ou esportistas exercem fascínio e atraem as multidões necessitadas de modelos. O que os torna tão atraentes?

Meu interesse converge para certas pessoas que estão muito longe de serem luminárias: o inofensivo e alegre bobo da corte. Há um motivo da minha indiscutível preferência por essa figura: os grupos são cruéis com quem possui superioridade, de inteligência ou de realizações. Daí a simpatia pelo cordial Arlequim, centro das conversas, das rodinhas e das piadas.

O bobo da corte diz que em um ano o mundo irá desaparecer, vitimado por uma guerra nuclear. No dia seguinte, com a maior tranquilidade, diz que certa doença irá dizimar metade da humanidade. Nenhum dos ouvintes se abala se a humanidade continuar de pé – apesar das sombrias previsões.

É tudo que as pessoas querem ouvir: notícias bombásticas, afinal, entra dia e sai dia, nada de diferente acontece para 99,99999% dos seres humanos – que, portanto, não querem saber de crimes ou de discursos vazios de políticos. Assim, todos ficam cada vez mais dependentes de quem? Dele, claro, do doce bobo da corte, que, com seu jeito bonachão, também cumpre o imprescindível papel de desanuviar e de serenar o ambiente.

É uma função cada vez mais importante atualmente, de crescente pressão social. Desempenha tal ofício ainda que seja necessário fazer com que riam dele – tarefa na qual é um verdadeiro gênio, cumprindo-a magistralmente e sem se tornar um reles fanfarrão.


Roberto Minadeo é escritor.

Autor de “Sonhos fulgurantes” e “Duas Irmãs”.


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