um ensaio por Paulo Cesar Paschoalini
O filme “Sociedade dos poetas mortos” é uma produção estadunidense do ano de 1989, que foi indicada ao Oscar nas categorias de Melhor Diretor, Melhor Ator e Melhor Filme, além de Melhor Roteiro Original, sendo, nessa última, laureado com a estatueta.
Sua ambientação é do final dos anos 50, numa época marcada por transformações sociais. Mostra a história de uma classe de alunos do tradicional colégio Welton, cujas palavras de ordem eram “tradição, disciplina, honra e excelência”, um modelo de educação que os pais almejavam para seus filhos, já que exerciam forte influência sobre o futuro deles.
Durante a cerimônia de abertura do ano letivo, o novo professor, John Keating, é apresentado aos estudantes e, devido a seus métodos pouco convencionais, ganha a simpatia dos alunos, mas, em contrapartida, provoca incômodo à Direção do Colégio.
O filme é repleto de situações que podem nos remeter a muitos pensadores, tendo em vista que a busca do conhecimento, vontade e liberdade sempre foram objetos de reflexão. Para Sócrates, por exemplo, a educação tinha como finalidade não somente a transmissão de conhecimento, mas a busca do autoconhecimento, conforme sua célebre frase “conhece-te a ti mesmo”.
No decorrer da trama, o Prof. Keating acaba alimentando as divergências entre pais e filhos na escolha da carreira, instigando os alunos a questionarem-se sobre suas vontades. Seus métodos de ensino acendem o conflito entre a tradição do Colégio e a liberdade de escolha dos jovens. Ainda mencionando Sócrates, “uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida”.
A questão da liberdade é levantada desde o início do filme, quando os alunos são obrigados a curvarem-se aos princípios embasados nos quatro pilares da Instituição. Entregues aos cuidados do Colégio, passam a adotar uma postura quase militar, o que impede eventuais expressões consideradas “fora dos padrões”.
No existencialismo de Jean Paul Sartre, o filósofo francês desvincula a liberdade da vontade divina e conceitua que ela é uma decisão individual. “O homem é condenado a ser livre”, sendo, portanto, único responsável por suas escolhas, não havendo um destino pré-estabelecido na vida.
Destaque para o personagem Neil Perry, estudante entusiasta das ideias de Keating, que resolve seguir seu coração e, movido pela poesia, descobre o teatro como objetivo de vida. Mas essa escolha esbarra na vontade do pai, que decide que filho será médico. Ao ver seu sonho frustrado, o jovem lança mão de uma atitude trágica.
Entendo tratar-se de um filme denso, que aborda vários aspectos do relacionamento humano, ficando explicita a dissonância nas relações entre instituição e professor, colégio e alunos, educador e educandos, pais e filhos, além das diferenças de atitude entre os próprios estudantes.
Decorridos mais de meio século, ainda persistem os questionamentos quanto aos objetivos das instituições, padrões e qualidade de ensino, relações familiares e métodos de educação, insatisfações da juventude, entre outros. Enfim, reflexos do comportamento humano, na eterna e intrincada busca por uma convivência mais harmônica.
Para finalizar, vale lembrar a poesia de Henry Thoreau, mencionada no filme:
“Fui para os bosques para viver deliberadamente,
para sugar todo o tutano da vida.
Para aniquilar tudo o que não era vida,
e, para quando morrer, não descobrir que não vivi”.
Nela está contida a necessidade de se viver intensamente a vida, tal qual a expressão Carpe diem, que vem do latim e que significa “colha o dia”, ou “aproveite o momento”.
Paulo Cesar Paschoalini é poeta, cronista, contista e compositor musical.
Blog pessoal: http://pirafraseando.blogspot.com/
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