por Lodônio de Poiri
não me dê um caleidoscópio
não quero um caleidoscópio
não me peça um caleidoscópio
não te darei um caleidoscópio
O caleidoscópio não é importante para nós!
nem objetos arqueológicos
nem totens e constelações
nem livros religiosos
nem deuses e orações
O que haverá de ser importante para nós?
Saber o começo das coisas
ou simplesmente fazer sexo ?
Prever o fim das coisas
ou simplesmente fazer sexo ?
Perder-se com o fim, o princípio e o sexo
ou livrar-se do relógio da madrugada ?
Às duas horas,
quando o sol, covardemente, está escondido:
toda marquise é árvore de copa generosa –
onde as orquídeas dos indigentes florescem.
Às duas horas,
quando a neblina, essa alcoviteira, decide passear:
nenhum artefato lúdico ou artefato científico ou artefato religioso
atende às necessidades noturnas.
Às duas horas,
quando a lua, ingênua e vaidosa, destila romantismo:
qualquer orquídea na marquise transpira indiferença.
As pétalas que conhecem a neblina dedicam-se à luxúria.
Ainda que a sensualidade,
também,
não seja importante para nós.
Lodônio de Poiri é poeta e escritor. Um epicurista anarquista e vice-versa
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