um ensaio por Paulo Cesar Paschoalini
Como vem acontecendo todos os anos, boa parte da mídia dirige seu arsenal para o famigerado BBB (Big Brother Brasil - para muitos, Banalidade em dose tripla), alcançando altos índices de audiência, segundo a emissora. Embora a propaganda seja bem trabalhada, cabe perguntar o que faz do formato reality show um sucesso? Qual atrativo leva grande parte do público a fixar o olhar durante a exibição de programas dessa natureza?
O que se vê são diálogos inconsistentes, de pessoas vivendo uma falsa rotina, diante de olhares curiosos e ávidos por cenas mais íntimas, envolvendo participantes, sendo a maioria deles dotados de atributos físicos para atrair a atenção do telespectador. Aliás, talvez o apelo estético seja justamente o mais explorado, já que pouco se pode esperar dos candidatos em quesitos mais relevantes.
Depois de algum tempo, o telespectador reveste-se de poder suficiente para decidir o destino dos participantes, muitas vezes contrastando com a incapacidade de resolver a própria vida. Sente-se importante por escolher aquele(a) que vai ganhar uma considerável soma em dinheiro no final de poucas semanas, mas não empenha-se para mudar a sua condição de assalariado mal remunerado de todo mês.
Questiona-se quem dentre os participantes será eleito o mais simpático, bonito ou sexy, mas não acerca do rumo que está sendo traçado pela classe política, especialmente num ano eleitoral. Não percebe que o vencedor do BBB não mudará em nada a sua vida.
Em contrapartida, mostra pouco interesse com relação aos representantes que escolheu para decidirem sobre assuntos como educação, segurança, geração de empregos, Previdência Social e saúde, com a pandemia ainda insistindo em permanecer.
Sem poder interferir diretamente na estrutura televisiva, o telespectador não tem a consciência de que é capaz de influir na grade de programação das emissoras, simplesmente recusando-se a assistir certas atrações. Ao invés disso, acomoda-se em sua poltrona e sujeita-se ao papel de voyeur compulsivo, em busca de cenas picantes, que possam dar algum tempero à vida insossa que provavelmente costuma levar.
Muito embora os apresentadores sejam celebridades, que gozam de certo prestígio no meio artístico, curvam-se ao mesmo patamar de futilidades, optando por trilharem um caminho na contra mão do que se espera de um programa de qualidade, entregando-se à conveniente máxima do “pagando bem, que mal tem”.
Talvez esse tipo de programa represente o retrato fiel do que tem sido a TV brasileira; uma fábrica de alienação coletiva capaz de ditar normas, comportamentos e costumes, de acordo com inúmeros interesses. O telespectador submete-se à modismos da “telinha” e passa a sentir-se “um poço de sabedoria” por assistir a determinados programas, ou por saber cada vez mais das novidades dos bastidores.
Quem vai ganhar? Todos os participantes sairão ganhando de alguma forma. Por muitos não pertencerem ao meio artístico, passarão a ocupar um considerável espaço nas Redes Sociais e na mídia. Alguns irão estampar capas de revistas, dos mais variados gêneros, cujo conteúdo tende a assemelhar-se ao nível do programa, conseguindo os tais “15 minutos de fama”, quase sempre efêmera.
Quem sai perdendo? Não é difícil de responder. Novamente o público, que dedica o seu tempo assistindo a uma atração, que “vai do nada para lugar nenhum”, sem acrescentar algo de relevante à sua vida.
Dessa maneira, na ânsia de conseguir índices de audiência a qualquer preço, as emissoras continuam apresentando cada vez “mais do mesmo”, recheado com a banalidade de sempre. E assim, enquanto a TV vai vendendo os seus produtos, o telespectador continua sendo um comprador de ilusões!... Ou desilusões?...
Paulo Cesar Paschoalini é poeta, cronista, contista e compositor musical.
Blog pessoal: http://pirafraseando.blogspot.com/
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