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  • Foto do escritorArmazém na Estrada

Mais de Um ano de Arte em Pandemia

Com a pandemia vieram colapsos e bloqueios no mercado cultural. E também a tradução artística do momento global.

Um ano atrás, em Março de 2020, o poeta escrevia "A Dançarina no Telhado (O Silêncio que embala a Dança)". Nesta edição, enquanto a pandemia prossegue sem hora para despedida, publicamos novamente o primeiro poema da revista 'Armazém na Estrada'.


A Dançarina no Telhado

(O Silêncio que embala a Dança)

por Lodônio de Poiri



Enquanto na terra das sete colinas,

sob o cerco de um vírus,

balouçam varandas canoras;

o Chifre da África declina

das históricas dores

diante das nuvens devastadoras:

gafanhotos maledicentes

comem a comida

dos gados e das gentes.

Nenhum canto planetário

pode ecoar o balancete africano

de tantas perdas acumuladas.

O globo já era um aquário

transbordando insólitos temores

nas bordas ditas delineadas.

Sentado na minha varanda

ouvi todos os ecos da cidade:

- covid, covid, covid!

Era dia luminoso

e todos os velhos tossiam:

- covid, covid, covid!

O entardecer não chegava

e as crianças peraltas adoeciam:

- covid, covid, covid!

O aquário da humanidade marulhava em ondas:

- covid, covid, covid!

No ocaso, lembrei-me de cada seixo dragado nas marés...

... quando ela surgiu envolta em colares!

Nenhuma nota musical era audível.

E ela suavemente caminhava no telhado.

Não mais cogitei

se o ataque dos gafanhotos

vedou a Operação Liberdade Duradoura:

Ela dança nas telhas!

Na Criméia, o vírus apaziguou russos e ucranianos?

Ela dança nas telhas!

Na Caxemira, o vírus apaziguou paquistaneses e indianos?

Ela dança nas telhas!

No Bornéu do Norte, o vírus apaziguou filipinos e malaios?

Ela dança nas telhas!

No nordeste brasileiro, a pandemia igualou os balaios?

Ela dança nas telhas!

Ontem, o sol, sem vírus, aqueceu a pobreza em cada povoado caribenho?

O silêncio que embala a dança

é interrompido pela sirene.

Policiais aglomerados exigem que a solitária dançarina encerre...

O que eles sabem do cotidiano do Baluchistão?

Ela dança nas telhas!

O que eles sabem do meu encantamento vetado?!

Ela dança nas telhas!

Como agiriam vivendo diariamente na Síria?

Ah... Ela dança nas telhas

e unificaria as etnias de Myanmar ou do Sahel!

Tolos corrompem o silêncio

enquanto o vírus se propaga e...

Ela dança nas telhas!

Perdurarei minhas horas na varanda

olhando para o telhado vazio.

A espécie humana será modificada:

Sísifo contempla.

A alma de Epicuro sussurra na minha embriaguez:

“é preciso rir e ao mesmo tempo filosofar”.

Lodônio de Poiri é poeta e escritor. Um epicurista anarquista e vice-versa

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1 Comment


Malu Brao
Malu Brao
Apr 11, 2021

Hermoso poema de reflexión

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