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  • Foto do escritorArmazém na Estrada

Estado febril de um planeta doente

um ensaio por Paulo Cesar Paschoalini



E não é que de repente todos passaram a se preocupar com o meio ambiente!

Para que isso fosse possível, foi preciso a ausência de chuva por um longo período e a iminente ameaça de racionamento de água, especialmente nos grandes centros, para subir de vez a temperatura da opinião pública. No exterior, tornados mais intensos, terremotos decorrentes de deslocamento das placas tectônicas, além de outras manifestações da natureza, estamparam manchetes em jornais de todo o mundo.

A quebra seguida de recordes de temperaturas elevadas agora tornou-se a estrela dos grandes debates sobre o meio ambiente, sendo que a maioria se posiciona categoricamente contra os países mais industrializados, apontando-os como sendo os principais responsável por insuportáveis ondas de calor, devido aos índices galopantes de aumento da poluição. A alta temperatura, decorrente do chamado efeito estufa, nada mais é do que a constatação do estado febril em que o planeta doente se encontra.


O acirramento de polêmicas sobre questões ecológicas tem produzido energia suficiente para gerar discussões acaloradas. É bem verdade que a maioria da população não dispõe de dados necessários para dar um parecer preciso acerca do assunto, mas, mesmo assim, muita gente faz questão de se informar para poder emitir a sua opinião e isso pode ser visto, de certa forma, como sendo algo positivo.


Sentir “na pele” os efeitos desse desequilíbrio ambiental deixou de ser visto apenas como modismo, ganhando o status de saúde pública e preocupação individual com os desdobramentos mais delicados, que desembocam naquilo que se convencionou chamar de “qualidade de vida”, algo que passou a ser do interesse de todos.


A água, por exemplo, um recurso natural abundante e essencial à vida, é objeto de descaso de autoridades, uma vez que muito próximo das grandes cidades são lançados esgotos domésticos e resíduos industriais das mais variadas origens, deixando peixes e outros seres vivos sedentos por um pouco de águas claras. Em seu leito a vida já não vem encontrando mais condições para se desenvolver e, a continuar assim, tudo que ali existe estará caminhando em direção à morte certa.


Apesar de que alguns segmentos tenham se manifestado e se movimentado sobre o assunto, boa parte ainda se mantém neutra, para não dizer omissa. Embora muitos digam que a natureza é a manifestação visível de Deus, as religiões, em particular, demoraram para saírem do “estado morno” em que se colocaram até então.


É sabido que a água é usada como símbolo em muitos cultos, em várias partes do mundo. Algumas vezes em rituais de batismo, outras para lavar escadarias e outras, ainda, para cerimônias à beira mar. Existem, também, as mais diversas maneiras de utilizar a água e todas com um forte significado simbólico, na maioria das crenças. No entanto, penso que já passou da hora de perceberem que a água não é apenas um simples símbolo. Mais do que isso, esse líquido precioso é essencial para preservar aquilo que se tem de mais sagrado: a VIDA!

Segundo muitas religiões, ao Ser Supremo coube criar e ao ser humano cabe a incumbência de preservar a criação. Infelizmente, ao invés de se posicionar como “filhos de Deus”, como se autodenomina, a chamada “principal” de suas criaturas tem se portado como o mais temido e destruidor das espécies que habitam essa “nave azul” suspensa no universo, chamada de “Mãe Terra” por todos nós, seus ingratos viajantes.



Paulo Cesar Paschoalini é poeta, cronista, contista e compositor musical.

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