por Chris Resplande
É 31 de dezembro e neste último dia do ano, qual peixe no aquário, encontro paredes que não atravesso. Velhos temas, mesmos erros, a espera de algo que descosture a rede que aprisiona, que abra um oceano de liberdades, marés nas quais possa mergulhar em paz, sem pressa. Escuto os fogos, olho o relógio e, num átimo, é novo ano! Renovam-se as esperanças em mistério de que não ouso duvidar. Brota o desejo de dar o abraço que não foi dado, dizer o que de bom não foi dito, agradecer o que recebi com indiferença ou como simples constatação de merecimento. Olhos marejados, uma névoa perpassa o semblante, tudo o que poderia ter feito, acolhido, compreendido, relevado, amado e não fiz. Revejo a caminhada de ser humano cheio de falhas e limites; viajo na memória das coisas mais íntimas escondidas em mim e, entre elas, a busca de um equilíbrio tal que me proporcione corrigir desacertos, olhar fragilidades com ternura, reconciliar-me, ir adiante. Revelo-me, então, pronta a seguir um novo caminho, um novo ciclo, fundamentado apenas em uma segurança que nunca é estável mas que é o que nos move: os sonhos. Deixo-os no sereno, de molho ou marinando, e, dia a dia, mês a mês, colherei um a um com mãos de ternura e com elas os tornarei concretos. Pouco a pouco aquela névoa se dissipará em sol de propósitos cumpridos, afetos demonstrados, dias de paz, num sabor de eternidade que acalma a alma.
Chris Resplande é poeta de Goiânia.
Publica seus poemas na página @asletrasdachris, no instagram.
Promove encontros poéticos em parceria com o
Museu Antropológico da UFG e o cineclube Imigraçâo.
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