por Moisés Morais
Seria a derrota eleitoral de Donald Trump o prenúncio da saída de cena da extrema direita no mundo? Será que é uma questão de tempo para que se processe no Brasil algo parecido com o que aconteceu na eleição presidencial dos Estados Unidos?
Creio que seja válido responder a essas perguntas com alguma cautela e considerar que o fato de Donald Trump ter que arrumar as suas malas da Casa Branca enfraquece a extrema direita nos Estados Unidos e no mundo, mas não a fere de morte.
Com relação ao Brasil, se semelhante ao Trump, o capitão, em 2022, será desalojado do Palácio do Planalto, porém, é importante dizer que nem sempre as mesmas condições de temperatura e pressão se mantêm em momentos e lugares diferentes. Muito embora a crise social, econômica e sanitária que há nos Estados Unidos demonstre alguns elementos similares ao que se evidencia no Brasil, não temos garantia que por aqui os desdobramentos políticos que disso podem resultar serão exatamente iguais, ou seja, a derrota na eleição presidencial de uma candidatura gestada no útero da extrema direita.
Certo é que podemos constatar que Donald Trump, apesar de ter perdido a eleição, exibe uma votação expressiva
Certo é que podemos constatar que Donald Trump, apesar de ter perdido a eleição, exibe uma votação expressiva. Desse modo, é ilusório pensar que a sua saída da Casa Branca representa o declínio decisivo da visão de mundo e dos valores que animam as posições políticas conservadoras. A extrema direita permanecerá como uma força política povoando o debate público e disputando os certames eleitorais nos Estados Unidos.
No Brasil, na hipótese da saída de Bolsonaro do poder pela via eleitoral é possível vislumbrar uma tendência parecida. O que caberá na sequência é construir uma série de mecanismos que possam constranger o discurso infame que foi reabilitado no Brasil e a barbárie que ele pode materializar.
Na verdade, o que o Governo Bolsonaro vocaliza existe há tempos na sociedade brasileira, apenas atravessamos um curto período pós-ditadura militar em que se freou oportunidades políticas para que determinadas pautas fossem defendidas publicamente. O racismo, o machismo, a indiferença com a vida ou a defesa pela ocupação das florestas com empreendimentos econômicos são questões evocadas há muito tempo. A crise econômica e política gerou um contexto favorável para reabrir a porteira e o rebanho conservador voltasse a propalar um discurso feroz com esse conteúdo em condições de arregimentar os votos de setores incautos e ressentidos da população.
arrisco a dizer que o mais difícil não será Bolsonaro aprontar as suas malas do Palácio do Planalto, mas descontruir na sociedade os valores que ele representa
Assim, arrisco a dizer que o mais difícil não será Bolsonaro aprontar as suas malas do Palácio do Planalto, mas descontruir na sociedade os valores que ele representa. As forças progressistas e à esquerda têm pela frente uma luta contra uma hidra que possui mais de sete cabeças. As ideias políticas, para o bem ou para mal, tem capacidade de continuar para além da sobrevivência política ou física dos seus principais expoentes.
Moisés Morais é Historiador e Professor. Mestre em História pela UNEB.
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