Lodônio de Poiri

Como quem vai à Missa,
levanta em mais um domingo.
Alcança o primeiro vestido nos cabides;
com os acordes da lingerie confortável.
Sem maquiagem.
Belos lábios despidos do batom.
Jóias, anéis, colares e brincos:
nenhum diapasão ajusta sua beleza.
Nos pulsos,
uma sacolinha com frutas.
Nos tímpanos,
um par de fones na frequência.
Deslizando até o shopping center…
Vitrines, vitrines, vitrines.
És um passarinho a voar
dentre mirabolante engenharia.
Vitrines, vitrines, vitrines.
Chilreando felicidades alheias
às ofertas: pousa na livraria.
Como quem profere sermão dominical,
pergunta em mais uma semana:
"Por que não há biblioteca no shopping center?!"
Depois da leitura,
às vezes,
a compra d'algum livro.
No retorno,
os lábios sem batom
assoviam
as pulsões dos fones nos tímpanos.
Quantos refrães
são necessários
para explicar uma vida?
Lodônio de Poiri é poeta e escritor. Um epicurista anarquista e vice-versa
Sucesso!!!