por Moisés Morais
Faz mais ou menos dois meses que fui assaltado pela nostalgia. Lembrei-me dos amigos e da música que ouvia há cerca de 20 anos atrás. E se tem algo memorável dessa época eram os shows do inusitado grupo de Rock chamado Filhos da Erva que amalgamava referências que passavam por Raul Seixas, Camisa de Vênus, Manguebeat e reminiscências beatniks ao estilo bukowskiano.
Para acalentar essa nostalgia encontrei intacto o disco Estradão, único registro fonográfico da trupe Filhos da Erva que reunia Duda Aragão, Wendel, Renato e Márcio Punk. De lá pra cá não tenho parado de ouvir e até meu guri de seis anos já pede para tocar esse disco. Fosse uma cena mais propícia do Rock na Bahia, na virada da década de 1990 para os anos 2000, e, talvez, os Filhos da Erva teriam alçados voos mais altos. Mas isso é uma outra história.
Faço esse preâmbulo, lembrando dos Filhos da Erva, para prestar uma homenagem póstuma a Márcio, quando se completou no dia 6 de outubro um mês do seu falecimento. Falo isso para registrar que ao tempo que voltei a ouvir, quase que diariamente, a música produzida por Márcio Punk, sua vida entrava em uma espécie de contagem regressiva em meio à luta que ele travava, há mais de um ano, contra o câncer.
Sem saber disso, eu alimentava o desejo de ainda assistir um show dos Filhos da Erva, ao lado do meu filho, pois vai que essa turma resolvesse fazer uma apresentação especial, como fizeram em 2014? Isso até pode voltar a acontecer, mas, infelizmente, será sem a presença insubstituível de Márcio, que cantava, tocava flauta e percussão, além de assinar algumas composições do grupo.
Márcio Punk se foi. Fica a sua memória. E em uma justa homenagem o Beco da Energia, local que recebeu uma ocupação artística-cultural liderada por ele, receberá o seu nome. Marcio Punk se foi. A vida é assim, ela pode durar um dia ou 46 anos, mas tem pessoas que sempre faria bem se vivessem um pouco mais.
Moisés Morais é Historiador e Professor. Mestre em História pela UNEB.
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