um poema por Daniel Junior

Trago nesses versos
Uma singela homenagem
A um sujeito de saudosa memória
Que marcou sua trajetória
Através de causos e estórias
Relembraremos aqui
João da Hora
Que a esse tempo
Deve está de papo
Com São Pedro
Contando peripécias
E seus enredos.
I - O CANTO DO URUBU
Numa certa feita
Antes mesmo de raiar o dia
João foi acordado
Por uma bela sinfonia
Disse na vida
Nunca ter visto
Um canto tão bonito
Vasculhou na cozinha
e a cumeeira
Observou no quintal a laranjeira
E nada de encontrar
O bicho a cantarolar
Andou pelo resto da casa
Chegando na porta da sala
O canto ficou mais forte
E admirou-se
Com um urubu
Cantando no poste.
II - A ONÇA NO CIO
Essa estória
Foi diversas vezes
Por João repetida
Nesse dia ele pensou
Que perderia a vida
Indo a mando do pai
Buscar lenha
Pra mãe cozinhar
João ouviu um bicho urrar
O susto foi tão grande que João perdeu o brio
Tendo o corpo
Coberto de calafrio
Quando avistou
Uma lustrosa pantera:
- Agora minha vida já era
A bicha veio encostando
E o corpo de João farejando
E foi na altura da cintura se posicionando
Já não se ouvia mais urro
Parecia mais um assovio
A bicha estava no cio
João fez o serviço
Dizendo ele ter sido bem feito
Deixando por essas matas
Um monte de gato preto.
III - RUA JOÃO DA HORA
O homem se autodenominou
Alcunha de rua
Ponta a ponta
De Zé Vitor à mãe de Ito
Passa a ser agora,
Rua João da Hora
Porém o sujeito
Tava vivo
E para tal honraria
Não tinha o requisito
Porque a lei tinha proposta
De homenagear
Só gente morta
O intento
Foi levado ao parlamento
Depois de muito debate
E discussão acalorada
Porém regadas de boas risadas
João se levantou
Tomando pé da palavra
E com verso e prosa
Bradou com Milton Barbosa
Deixando o mesmo encabulado,
- Morre tu, abobolado
Faça tua passagem
E receba essa tal homenagem.
IV - PANELA DE PRESSÃO FALANTE
Certo dia
Miné precisou sair
Pra resolver uma pendência
Deixando para João
Uma incumbência
Você hoje cuidará do almoço!
Ajeite o arroz e o feijão
E coloque a carne na pressão
João fez tudo de maneira organizada
E foi bater um papo na calçada
De repente da cozinha uma voz exclamava:
João, João
Corre cá, João
Era a panela de pressão
Pedindo pra ele desligar o fogão
- Você botou carne
Foi mocotó não
Onde João contava essa estória "bem contada"
Arrancava do público boas gargalhadas.
V - MEU CABELO ERA LISO
João saiu do "Norte"
E foi pra São Paulo
Tentar a sorte
Trabalhando
Numa fábrica de cimento
Percebeu que seu cabelo
Perdia o alisamento
Carregando na cabeça
O produto quente
O cabelo endurecido
Não entrava mais pente
E quem da estória duvidava
João dizia que tinha foto e provava
Porém, nenhum ser vivo
Recorda João de cabelo liso.
VI - FERROVIA AFORA
Em um episódio contado
E recontado
E em nenhum momento aumentado
Num dia
Chuvoso e frio
Batendo baba na beira rio
João driblou
O time inteiro
Meteu chapéu
Até no goleiro
Com exímio
Domínio de bola
Disparou ferrovia a fora
Entre embaixadinha
E piano
Parou em Água Preta de Mucambo.
VII - EPÍLOGO DE JOÃO
Enquanto o caixão
Adentrava o cemitério
Encerrando seus segredos e mistérios
Ouvi um lamento espontâneo
De um jovem conterrâneo
- Lá vai João da Hora
Levando parte da nossa história.
Daniel Junior é poeta e pedagogo
Não sei se este é o mesmo João da Hora que conheci, entretanto o João que me refiro também gostava muito de contar casos e eu gostava muito ouvir, não só os casos, mas o próprio jeito dele era contagiante pela espontaneidade e alegria constante...
Deve ser o mesmo!!!!
Obrigada ao autor Daniel por retratá-lo tão bem nestes versos!!!