um ensaio por Moisés Morais
Jornais de grande veiculação no Brasil ao noticiarem sobre a morte de um indígena da etnia Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, no dia 24 de junho, fazem menção a “confronto” com a Polícia Militar desse Estado. O problema que reside nesse tipo de abordagem é que se omitem duas questões que compõem o contexto. A primeira é a desigualdade bélica em desfavor dos indígenas. A segunda é a cobiça existente sobre os territórios ancestrais e da violência sistemática empregada contra povos indígenas no Brasil que dura mais de 500 anos.
Essa é uma perversa continuidade histórica. A expansão do agronegócio, a edificação de hidroelétricas, a construção de estradas, instalação de empreendimentos turísticos e hoteleiros, a extração de minérios e madeira, o tráfico de drogas, além da ação missionária de religiosos têm atualizado formas de expropriação e de práticas violentas que acossam indígenas desde a chegada do colonizador europeu.
Nesse quadro, o Estado brasileiro tem se mantido inoperante. A FUNAI tem se comportado como um órgão anti-indigenista e a Polícia Federal tem se mostrado morosa para investigar e punir responsáveis por crimes cruéis contra indígenas. Esse comportamento manifesta uma opção política eivada de valores herdados da colonização e que a sua reprodução têm se mantido funcional para viabilizar a exploração econômica que favorece as elites. Quando diremos já basta a esse estado de coisas?!
Moisés Morais é Historiador e Professor.
Mestre em História pela UNEB.
Comentarios