Armazém na Estrada

30 de jun de 20202 min

Tributo: Bárbara Heliodora

Atualizado: 12 de mar de 2021

Nesta semana, um Tributo à Bárbara Heliodora (1759-1819), considerada a primeira poeta brasileira, participou ativamente da Inconfidência Mineira.

Escritos sobre ela:

(clique nos links)

Escrito por ela:

Conselhos a meus filhos

Meninos, eu vou dictar
 
As regras do bem viver;
 
Não basta sómente ler,
 
É preciso ponderar,
 
Que a lição não faz saber,
 
Quem faz sabios é o pensar.
 

 
N’este tormentoso mar
 
D’ondas de contradicçôes,
 
Ninguem solettre feições,
 
Que sempre se ha de enganar;
 
Da caras a corações
 
Ha muitas leguas que andar.

Applicai ao conversar
 
Todos os cinco sentidos,
 
Que as paredes têm ouvidos,
 
E tambem podem fallar:
 
Ha bichinhos escondidos,
 
Que só vivem de escutar.
 

 
Quem quer males evitai
 
Evite-lhe a occasião,
 
Que os males por si viráõ,
 
Sem ninguem os procurar,
 
E antes que ronque o trovão,
 
Manda a prudencia ferrar.
 

 
Não vos deixeis enganar
 
Por amigos, nem amigas,
 
Rapazes e raparigas
 
Não sabem mais que asnear;
 
As conversas e as intrigas
 
Servem de precipitar.
 

 
Sempre vos deveis guiar
 
Pelos antigos conselhos,
 
Que dizem que ratos velhos
 
Não ha modo de os caçar:
 
Não batão ferros vermelhos,
 
Deixem um pouco esfriar.

Se é tempo de professar
 
De taful o quarto voto,
 
Procurai capote roto,
 
Pé de banco de um bilhar,
 
Que seja sabio piloto
 
Nas regras de calcular.
 

 
Se vos mandarem chamar
 
Para ver uma funcção,
 
Respondei sempre que nâo,
 
Que tendes em que cuidar:
 
Assim se entende o rifão:
 
Quem está bem deixa-se estar.
 

 
Deveis-vos acautelar
 
Em jogos de paro e topo,
 
Promptos em passar o copo
 
Nas angolinas do azar:
 
Taes as fabulas de Esopo,
 
Que vós deveis estudar.
 

 
Quem falla, escreve no ar,
 
Sem pòr virgulas nem pontos,
 
E póde quem conta os contos,
 
Mil pontos accrescentar;
 
Fica um rebanho de tontos
 
Sem nenhum adivinhar.

Com Deos e o rei não brincar,
 
É servir e obedecer,
 
Amar por muito temer,
 
Mas temer por muito amar,
 
Santo temor de offender
 
A quem se deve adorar!
 

 
Até aqui póde bastar,
 
Mais havia que dizer;
 
Mas eu tenho que fazer,
 
Não me posso demorar,
 
E quem sabe discorrer
 
Póde o resto adivinhar.

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